Um novo estudo publicado recentemente na ScienceDirect têm sido objeto de muita divulgação em vários veículos de informação cannábicos, no Brasil e no exterior. Esse estudo coletou informações de motoristas em serviços de emergência para fazer uma correlação entre colisões de veículos motores e o uso de álcool e/ou cannabis, trazendo informações que evidenciam um aumento dos acidentes com uso do álcool (algo que já é amplamente sabido há décadas) mas – surpreendentemente – sendo inconclusivo para o uso de cannabis.
“Cannabis, sozinha, não foi associada a chances maiores de ocorrências de colisões de veículos motores (CVM), enquanto o uso agudo de álcool e o uso combinado de álcool e cannabis estão ambos associados a uma maior chance de colisões de veículos motores.”
Muita calma nessa hora…
Esse estudo não pode ser analisado de maneira simplória e irresponsável. Esse é apenas um estudo em meio a outros tantos estudos que trazem informações divergentes, o que pode evidenciar algum viés ou problema no método utilizado. Segue alguns dos artigos distribuídos gratuitamente na internet que conseguimos encontrar.
Estudo 1: Efeitos do consumo de Cannabs nas Funções Visuais e no Desempenho na Direção. Um Estudo Baseado em Simulador de Direção.
Conclusão (traduzida): “O consumo de cannabis tem um efeito negativo tanto nsa funções visuais como no desempenho de condução. Em parte, o prejuízo observado no desempenho de condução pode ser devido à degradação visual, uma vez que a maior parte da informação integrada para a condução é captada pelo sistema visual. Encontrámos correlações significativas entre certos parâmetros visuais e de desempenho de condução, particularmente no que diz respeito à estabilidade de condução. Assim, nossos resultados destacam a importância de parâmetros como acuidade visual, sensibilidade ao contraste ou estereocuidade, que desempenham um papel fundamental na manutenção adequada do veículo na faixa. Além disso, os nossos resultados sugerem uma falta de consciência dos riscos associados ao consumo de cannabis na condução, dado que uma proporção considerável de participantes conduziu depois de fumar cannabis. Há, portanto, ainda uma necessidade considerável de campanhas de sensibilização e de informação dirigidas ao público em geral, bem como de investigação que forneça informações adequadas sobre a forma como esta droga afecta a visão a curto e longo prazo e a capacidade de conduzir com segurança.”
Clique aqui para ler o artigo em inglês.
Estudo 2: Efeitos da Cannabis nas habilidades de direção.
Conclusão (traduzida): “(…) O aumento das concentrações de THC no sangue e a condução dentro de uma hora após fumar foram fortemente associados a maiores riscos de acidente e culpabilidade. Estudos de administração de medicamentos controlados em laboratório humano mostraram reduções no desempenho de direção induzidas por THC na primeira hora que duraram ≥2 horas após fumar, resultados que são amplamente consistentes com os dados epidemiológicos. (…)”
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Estudo 3: Os efeitos da cannabis na direção
Conclusão (traduzida): “A cannabis teve um efeito negativo na condução, como seria previsto a partir de estudos de desempenho humano. Esta conclusão apoia a necessidade de intervenções para diminuir a prevalência da condução sob a influência de cannabis e indica que mais estudos devem ser realizados para investigar a relação dose-resposta entre cannabis e condução segura.”
Clique aqui para ler o artigo em inglês.
Esses foram apenas alguns exemplos de artigos que encontramos numa busca rápida pela plataforma de pesquisa de artigos científicos do Google, o Google Acadêmico. No final das contas, no nosso país, hoje, não importa: maconha/cannabis é considerado um entorpecente, e, como tal, é crime usar e dirigir do mesmo jeito que é crime consumir bebidas alcoólicas e dirigir. Um dia ainda iremos passar por uma ampla discussão a respeito de maconha medicinal e direção, mas nossa legislação de hoje não quer saber disso.
