Doenças degenerativas são bem difíceis de lidar. Há remédios, há tratamentos, mas a qualidade de vida do paciente e das pessoas à sua volta acabam tendendo a piorar ao longo do tempo. Nesse cenário, surge a publicação de um estudo de caso sobre o tratamento de um paciente portador da doença de Alzheimer – cortesia do excelente artigo da Cannalize.

Nesse estudo de caso, a grande novidade é que, além do potencial “padrão” dos canabinoides presentes na planta, foi possível verificar que baixas dosagens dos canabinoides – abaixo de 1g por dia – podem ser suficientes para alcançar um efeito terapêutico.

Como foi o tratamento do paciente?

O paciente é um senhor de idade com 75 anos, agricultor, residente em um pequeno município Paranaense e diagnosticado há mais de um ano com Alzheimer, antes de usar Cannabis. Sua condição lhe trazia problemas de memória que afetavam as atividades do dia-a-dia, tal como colocar as coisas no lugar errado com frequência, dificuldade para se comunicar, desorientação no tempo e espaço, dificuldade de raciocínio, perda da iniciativa para fazer as coisas… em suma, uma perda substancial da sua autonomia.

O tratamento convencional que ele realizava com acompanhamento neurológico não estava amenizando os sintomas e o paciente vinha piorando muito rapidamente. A partir desse quadro de rápido declínio cognitivo e dos remédios convencionais não estarem surtindo efeito, os pesquisadores decidiram, então, realizar a experiência com o tratamento de Cannabis.

Como o estudo foi feito

Primeiramente, o óleo a ser utilizado foi analisado e foi determinado que continha 8 vezes mais THC do que CBD. O tratamento foi realizado iniciando com uma dose de 500µg de THC, e então foi feito escalonamento de dose, de acordo com a resposta do paciente, para encontrar a melhor dose.

Essa prática de escalonamento, começando com uma dose baixa e aumentando aos poucos é a forma mais usada para ajustar a dose. Isso se dá pela falta de estudos clínicos que determinem a dose terapêutica dos canabinoides para a grande maioria das doenças.

Ao longo de 22 meses de acompanhamento do paciente com esse tratamento foi possível chegar a uma resposta mais eficaz com uma dose diária de 500µg de extrato de THC.

Efeitos para o paciente

Num quadro acentuado de Alzheimer, evitar a progressão da doença já é considerada um avanço significativo. Para o paciente desse estudo de caso a surpresa foi que ele não apenas não teve progressão da doença como também obteve melhora sobre os seus sintomas cognitivos. Isso é muito importante ressaltar, pois não acontece com nenhum medicamento disponível atualmente.

Segundo os relatos do próprio paciente e da família, em menos de um mês de tratamento ele já passou a se sentir melhor, ter mais disposição e se esquecer menos das coisas e até a dormir melhor. Com o tempo ele voltou a ter sua autonomia, fazer suas atividades diárias, como cuidar dos animais e da lavoura normalmente e até conseguia viajar sozinho para suas avaliações durante o estudo.

Resultado inédito no mundo

Este resultado foi inédito porque realmente nenhum medicamento disponível hoje é capaz de promover a regressão dos sintomas. Nesse caso, foi possível observar tecnicamente essa melhora com exames de estado mental, amplamente usados mundialmente para diagnosticar e acompanhar a evolução das demências, cujo principal exame utilizado é chamado mini-mental.

Neste teste, quanto maior a pontuação do paciente, melhor o paciente está. Ao se comparar os resultados dos testes realizados antes do tratamento com os testes realizados durante o tratamento, é possível observar uma significativa evolução no quadro.

Como se essa evolução não fosse suficiente, isso tudo ainda foi possível de se obter sem a presença de efeitos colaterais, o que fez desse tratamento muito seguro e confortável para o paciente.

Atualmente, quase 4 anos após o início desse tratamento, o paciente segue estável, com sua autonomia preservada, podendo realizar todas suas tarefas do dia-a-dia e sem a necessidade de associar nenhum medicamento, apenas o extrato de cannabis.

O que falta para disponibilizar isso para todos?

Não. Ainda faltam muitos estudos clínicos, mais amplos, para comprovar sua eficácia. Esse estudo de caso foi o pontapé inicial para a realização de outros estudos com maior número de pacientes e com metodologias que auxiliem a determinar uma dose efetiva comum entre os pacientes, além de confirmar a eficácia e segurança do uso de Cannabis no Alzheimer.

Sem sombra de dúvidas, o potencial está demonstrado e agora faltam mais estudos clínicos e mais amplos com um número maior de pacientes e grupos controle, para avançarmos em direção a demonstrar de maneira inequívoca que a Cannabis pode tratar o Alzheimer, esta doença tão grave e debilitante.

Mas não temos cannabis medicinal liberada no Brasil?

Sim. Hoje há alguns regulamentos que permitem pacientes fazerem uso de cannabis medicinal a partir de receitas emitidas pelos seus médicos. Contudo, não sabemos exatamente quais são os grupos de canabinoides presentes no estudo que promoveram a melhoria do paciente, nem podemos garantir que o mesmo efeito será obtido em outros pacientes. Afinal, cada corpo é um corpo diferente, cada mente é uma mente diferente.

Ainda assim, você pode conversar com seu médico e avaliar se as opções disponíveis no Brasil podem ou não se aplicar ao seu caso.

Viva a medicina!

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Sobre o Autor: Redação

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